Na Experiência 01 a Feira Viva recebeu a presença de Ricardo Cardim. O botânico falou sobre a biodiversidade nacional e como ela está inserida no dia a dia e na culinária. Confira mais sobre seu painel.

“Hoje, 90% da vegetação que existe nas cidades brasileiras é estrangeira, mas o Brasil é o país mais rico em natureza do mundo, temos 50 mil espécies de plantas diferentes.

Porém, quase tudo que tem na cidade, por motivos culturais, é estrangeiro. E isso não ocorre somente no paisagismo, mas também na alimentação.

O Brasil é conhecido como o país das frutas. Desde criança meu pai falava quando a gente ia ao hotel de manhã: olha quanta fruta linda, isso aqui é um país abençoado por Deus, cheio de frutas maravilhosas. Mas aí eu fui crescendo, fui estudando e o que eu percebi?

Que quase nada dessa biodiversidade, desse país mais rico em biodiversidade do mundo, está na nossa mesa”, lamenta.

Ricardo conta que, segundo o IBGE, das vinte frutas mais produzidas no Brasil, só duas são nativas, o abacaxi e o maracujá.

“O resto vem da Europa, da Ásia, dos EUA. Então, a gente sofreu um verdadeiro processo de erosão cultural. Aquilo que nossos antepassados tinham nos seus quintais, aquelas frutas que vieram da cultura indígena, aquele saber do que eu posso comer no mato, na Mata Atlântica, no Cerrado, isso se perdeu na época dos nossos avós. Hoje, a gente não sabe mais quase nada sobre o que é nativo”, afirma.

“Eu acho que a Feira Viva é um momento para a gente entender e tentar fazer uma Semana Moderna de 22 para a vegetação brasileira. Tentar transformar o que é o estrangeiro na valorização do que é o brasileiro. Porque a gente tem o potencial. A gente tem uma quantidade de plantas maravilhosas, tesouros ainda escondidos, e que ninguém conhece”, acredita Ricardo.

Sobre o Cambuci

“A Helena vai trabalhar hoje com uma fruta muito especial para a cidade de São Paulo que é o cambuci.

Aposto que muitos já ouviram falar do bairro do Cambuci, mas não da fruta que parece um disco voador”, desafia Ricardo, enquanto conta a história da fruta.

“No século 19, quando São Paulo era uma vilazinha, entre o ribeirão Tamanduateí e Anhangabaú. Por lei da câmara, quem era pobre e não usava sapatos – o pessoal que não tinha condições de comprar sapatos – era obrigado a lavar o pé antes de entrar na cidade. Os viajantes que vinham trazendo cargas transportavam tudo em mulas. Então chegava aquela tropa com trinta mulas andando. Eles lavavam o pé no ribeirão do Lavapés. (Por isso o nome de uma rua no Cambuci é Lavapés.)

E na beira do ribeirão tinha um monte de cambuci na mata ciliar, na Mata Atlântica que envolvia o Tamanduateí e o Lavapés.

Quando os tropeiros paravam para lavar o pé, eles colhiam o cambuci que tinha na margem e davam para as suas mulas. Assim, o bairro foi batizado de Cambuci”, conta Ricardo.

“E outra coisa legal que pouca gente sabe, mas o cambuci foi um dos principais produtos de exportação da cidade de São Paulo lá por 1.800

Porque a fruta era muito abundante, tinha muita árvore de cambuci tanto nas florestas como plantadas nos quintais. Aí o paulistano descobriu uma receita de como fazer cachaça com cambuci e essa cachaça era querida no Brasil inteiro. São Paulo exportava essa cachaça naquela época”, explica.

“Então, o cambuci tem uma história muito forte. É nossa obrigação, como pessoas que entendem a importância da biodiversidade brasileira, fazer uma Semana de 22 para as plantas e frutas nativas.

E fazer com que o cambuci seja de novo a árvore símbolo da cidade de São Paulo. E que volte a habitar esta cidade que hoje só tem espécie estrangeira”, conclui o botânico.


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